» 1966 



O ano de 1966 aportava e com ele o vento de mudanças soprando em direção ao Who. Insatisfeitos com o estilo ditatorial do produtor Shel Talmy e com a incompetência da gravadora Decca em promover a banda nos Estados Unidos, Kit Lambert e Chris Stamp trataram de dar cabo de ambos. Enquanto Stamp na América conseguia um acordo mais lucrativo com a Atlantic, Lambert escrevia para Talmy dispensando seus serviços (apesar de um contrato de ainda mais quatro anos). Quando o produtor deu por si a banda já estava no estúdio sem ele, finalizando a mais nova composição de Townshend: Substitute. Não poderia haver título mais apropriado.

O compacto, lançado em março, foi um sucesso imediato no Reino Unido. Mas Talmy não se deu por vencido, e teve início uma batalha nos tribunais sobre os direitos da banda. O Who foi forçado a trocar o lado-B de Substitute, Instant Party (feita meses antes com o ex-produtor), por outra faixa - mas, proibidos de gravar, chamaram a banda Graham Bond Organization para registrar a Waltz for a Pig ("Valsa para um Porco") em homenagem à Talmy. Lambert e Stamp, vendo-se numa guerra perdida, resolveram tentar um acordo, permanecendo na Decca e dando à Talmy cinco por cento dos lucros dos discos do Who até 1971. Foi o preço que o grupo teve de pagar por sua liberdade artística.

Durante a contenda com Talmy o Who manteve uma agenda estável e cada vez mais lucrativa de shows, embarcando em sua primeira turnê pelo Reino Unido. Foi em uma dessas datas que Pete, acertado acidentalmente por um chimbal da bateria, devolveu com uma guitarrada na cabeça de Keith (que chegara atrasado para o show). O clima ruim entre os integrantes formou um racha que perduraria por algum tempo. De um lado Pete e Roger mantendo a banda, do outro Keith e John planejando se juntar com dois integrantes do Yardbirds e formar um novo grupo chamado Led Zeppelin - nome este inventado por Entwistle.

Enquanto a ameaça de rompimento não se concretizava o Who dava início a um período prolífico nos estúdios IBC em Londres. I'm A Boy, gravada em junho, foi a primeira aproximação de Pete em direção ao formato de óperas rock. Parte de um projeto chamado Quads, a história, situada em 1999, falava de uma realidade em que os pais poderiam escolher o sexo de seus filhos. A família da canção escolhe quatro meninas, mas recebe três garotas e um garoto.

No mês seguinte as sessões evoluiram para a gravação de um novo álbum. Depois de passar o ano anterior limitado às ordens de Shel Talmy, o Who agora respirava um ar de experimentalismo e divertimento, tentando todo tipo de idéias enquanto aprendiam sozinhos as técnicas de gravação e produção. A aura de liberdade beneficiou diretamente Roger, John, Keith e Pete, que firmaram um acordo para compor cada um duas músicas para o álbum. Com o projeto Quads descontinuado, Pete resolveu desenvolver melhor o esquema de "canções interligadas que contam uma história". O resultado, A Quick One, While He's Away, interacalava diferentes estilos musicais para falar de uma garota que trai seu marido com um maquinista, se arrepende e no final é perdoada. As sessões de estúdio continuaram em outubro, com A Quick One sendo finalmente lançado em dezembro. Nos Estados Unidos o disco só sairia cinco meses depois, mas renomeado para Happy Jack, compacto que obteve ali um sucesso moderado. Mas não só por isso - a velha hipocrisia norte-americana opôs-se ao trocadilho com a "rapidinha" do título. Mas o Who não tardaria a dar um jeito na situação (leia-se arrebentar tudo) com sua primeira e - literalmente - explosiva visita aos yankees no ano seguinte.



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Ilustrações por Marco Antônio Monteiro | Textos por Vinícius Mattoso | © Todos os direitos reservados
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